domingo, 25 de julho de 2010

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS!

Se quiseres, entra num transporte público urbano ou mesmo extraurbano ( autocarro, comboio, metro, etc.) uma vez por dia, durante uma semana, e ao fim faz a conta de quantas vezes terás ouvido dizer “desculpe!”. É que terás a impressão de que a palavra mais fácil de pronunciar seja exactamente esta: “desculpe!” E então os que passam os dias em balcões de informação nos aeroportos, estações ferroviárias, etc., esses voltam às suas casas com o dever cumprido de terem “desculpado” muitos erros, culpas ou enganos cometidos em casa ou na rua por cada um dos seus clientes ou simplesmente transeuntes, não sei como. É que a cada instante aparece alguém pedindo informação e não o faz sem antes dizer “desculpe” ou, mais carinhosa e delicadamente “queira me desculpar…”. E, geralmente, a resposta imediata, sem que as pessoas se interroguem sobre esse pedido de desculpa, é esta: “está desculpado…, diga, se faz favor…!”. Já pensaste em quantas pessoas esses funcionários “desculpam” por dia? Trata-se de uma simples etiqueta, um automatismo, um “instinto” ou as pessoas têm mesmo qualquer propensão a pedir desculpas impelidas pelo respectivo sentimento de culpa?

Na verdade, o que se verifica é que às vezes existem poucos motivos de pedir desculpas; pelo que fica muito mais fácil pronunciar tal palavra, o que não acontece quando há efectivamente motivos reais e sérios para pedir desculpas. E é exactamente por isso que até quem tem maiores dificuldades em pedir desculpas a quem ele realmente ofendeu, ou quem não consegue aceitar as desculpas de outrem ( em casa, na comunidade, no escritório, na escola, ecc.), não lhe é difícil dizer “desculpe” nas circunstâncias acima descritas, quer dizer, simplesmente para fazer passar a imagem de bom cavalheiro mesmo em banalidades.

De facto, querendo ser mais precisos, pedir desculpas não é a mesma coisa pedir perdão, ou melhor, se o pedido de perdão implica também o pedido de desculpas, nem sempre o pedido de desculpas implica a existência de uma ofensa passível de perdão a pedir ou a dar. Pedir perdão ou perdoar não é coisa fácil: implica humilhação, aceitação de si ( consciência das suas crises, pecados, limites, fraquezas…), aceitação do outro ( suas qualidades, sua dignidade, suas potencialidades), dar o primeiro passo em direcção ao outro, desarmar o coração e as mãos dispondo-se a abraçar o irmão. Só com esta atitude, os cristãos deveriam ousar dizer a Deus, o Único que perdoa sem precisar de ser perdoado: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt. 6, 12).

Mas se por um lado encontramos casos em que o pedido sincero de perdão ou de desculpa conquista simpatia, tolerância, clemência, amor, aceitação da parte do ofendido, em não poucas ocasiões esta humilde e sincera atitude acarreta para o sujeito ofensor ou “pecador” arrependido marginalização, intolerância, aproveitando-se do reconhecimento doloroso do seu mal como ponto de apoio da nossa crítica e às vezes até da nossa doutrina. Quando eu era pequeno os adultos repetiam tanto o adágio: “quem confessa a verdade, não merece castigo”! Mas hoje, muitas vezes quem confessa a verdade é vítima da sua confissão. Nao é que se deva excluir o cumprimento da pena que a ofensa ou pecado merece, mas que o sentimento de culpa e o conseguente arrependimento e confissão da verdade seja aproveitado como o primeiro remédio que leva à cura efectiva da pessoa e um laço inquebrantàvel do restabelecimento da amizade e da fraternidade entre filhos do mesmo Pai. Não foi isso que Jesus fez com Zaqueo, com Pedro, com Levi e outros publicanos só para citar alguns exemplos? A paz e a reconciliação de que carece o nosso mundo de hoje serão possíveis apenas se aprendermos não so a perdoar, na verdade e no amor, aqueles que nos ofendem mas também a saber pedir perdão àqueles que a nossa antipatia, a nossa intolerancia ofendem.

Para um mundo em paz, è preciso aprender a oferecer e a pedir perdao!